quarta-feira, 30 de maio de 2012

"O futebol brasileiro é pior que circo"

O excelente jornalista esportivo Paulo Vinicius Coelho o “PVC” concedeu esta entrevista ao jornal/site Tribuna do Norte, confiram ai a opinião de quem realmente entende  do riscado.

O breve resumo no site da ESPN mostra um pouco de quem é Paulo Vinicius Coelho - PVC. "Formado em Jornalismo em 1990, pela Universidade Metodista, em São Bernardo do Campo, começou a trabalhar em pequenos jornais da cidade e depois como repórter do Diário do Grande ABC. Em 1991, foi estagiário da revista Ação, da editora Abril e logo chegou à Placar. Em 1997, chegou ao diário Lance!. Escreveu livros também: Jornalismo Esportivo, Os 50 Maiores Jogos das Copas do Mundo e Futebol Passo a Passo: Técnica, Tática e Estratégia. Na ESPN desde 2000, PVC passou a participar de quase todos os programas e de várias transmissões de futebol. Pela firmeza dos comentários, embasados em muita informação, firmou-se já como um dos grandes comentaristas do jornalismo esportivo brasileiro".

Paulo Vinícius Coelho, jornalista esportivo

A personalidade forte de PVC lhe rendeu alguns embates em seu trabalho jornalístico e, em entrevista à Tribuna do Norte ele mostrou um pouco de sua opinião a respeito do futebol brasileiro e a forma como ele é administrado, a ponto de dizer que "o Brasil não é mais o país do futebol".

Você é a favor da mudança do calendário do futebol brasileiro?

Em princípio sou a favor da mudança do calendário para o calendário europeu. Mas o que tem me resistido mais a ser a favor é um problema que nos tem afligido menos nos últimos tempos que é o êxodo de jogadores. Vai voltar a afligir daqui a um tempo. Hoje está afligindo menos por causa da questão econômica. A gente tem dinheiro aqui dentro e o europeu tem menos dinheiro lá. A inversão do calendário, ao meu ver, é fundamental para diminuir o impacto do êxodo no Campeonato Brasileiro. Veja bem, não estou dizendo que vai resolver o problema, estou dizendo que vai diminuir esse impacto. Mas o problema fundamental não é esse. O problema fundamental é trabalhar as coisas para fazer o futebol brasileiro pegar. Não é você andar na rua e ouvir as pessoas falando. É você ter 80, 90 ou 100% de ocupação nos estádios. A gente fala assim, a Alemanha tem a maior média de público no Mundo hoje e a Inglaterra não tem porque os estádio são pequenos. Não é só por isso. Os alemães trabalharam para ter uma média de público de 45 mil pessoas por jogo, com taxa de ocupação de 99%. Tudo bem que os estádios ingleses são menores, mas tem estádio com 76 mil lugares que não são ocupados. E a gente tem estádios pequenos, pois os estádios brasileiros diminuíram muito de tamanho e para você ver, o maior estádio do Brasil, no Campeonato Brasileiro, hoje, sem Maracanã e sem Mineirão é o Morumbi que tem 75 mil lugares e não recebe mais de 65 há cinco ou seis anos. Então isso não pode acontecer. A gente não pode achar isso normal. Se você tem um estádio de 40 mil você tem que ter 40 mil todo jogo. Se tem de 70 mil tem que ter 70 mil todo jogo. Todo jogo! E isso como se faz? É trabalhando. Estudando o preço do ingresso que você pode cobrar, fazendo trabalho de marketing para trazer o torcedor, melhorando seu estádio, contando para as pessoas que você melhorou as condições do seu estádio. O futebol brasileiro não faz nada disso. Ele coloca o jogo em campo e quem quiser que venha. É pior que o circo quando chega na cidade. O circo pelo menos tem o megafone.

E você acha que falta conforto aos nossos estádios?

É um círculo vicioso. As pessoas acham que tudo na Europa é maravilhoso e que tudo no Brasil é uma porcaria. E não é assim. Na Liga dos Campeões a nossa equipe de rádio se posicionou num lugar onde ele tinha dificuldades de visão. E o cara que tava do lado dele estava num ponto cego. As pessoas pensam que tudo aqui é um lixo e tudo lá fora é sensacional. Não é assim. Os estádios brasileiros melhoraram nos últimos 10 anos. Menos do que tem que melhorar. Acho que a grande lição que o futebol precisa ter é a do cinema. O cinema e o futebol sempre cobraram o mesmo preço. O cinema viveu uma crise nos anos 80 e saiu da crise quando resolveu ir para o shopping center oferecer conforto na sala. Você tem o DVD, em casa, você tem a TV a Cabo e você vai ao cinema porque você quer ver o filme no cinema com o tudo que o cinema te dá. O futebol não trabalha para isso. O futebol brasileiro não trabalha para isso. O futebol brasileiro é pior que circo. O circo pelo menos entrava na cidade com o megafone.

A TV ao vivo não influencia nessa falta de torcedor no estádio?

Influencia, mas você só vai medir isso quando você tiver trabalho para levar o torcedor para o estádio. Por exemplo, na Itália acabou o trabalho para levar o torcedor para o estádio e o pay-per-view custa menos que um ingresso no jogo. A queda de público na Itália tem a ver com isso. No Brasil você não tem como medir isso, porque você jogos na televisão, Corinthians e Vasco, por exemplo, na quarta-feira à noite, veja como é curioso isso, o Corinthians cobra o ingresso mais caro do Brasil e tem a melhor média de público. O Corinthians tinha na quarta-feira à noite um jogo com televisão aberta ao vivo para São Paulo e com 40 mil pessoas num estádio que cabe 40 mil, ou melhor, 37 mil pagantes num estádio em que se vende 37 mil ingressos. Então o Pacaembu tinha 100% de ocupação naquele dia. Com ingresso caríssimo e com televisão ao vivo. Porquê? Porque a gente passa o tempo inteiro dizendo que o jogo que conta é o da Libertadores, que o campeonato que o Corinthians quer é a Libertadores. Aí o cara de qualquer faixa de dinheiro, claro que o que tem menos dinheiro não pode pagar, paga e vai ao jogo. Então, isso no Brasil é ocasional. Devia ser assim o tempo inteiro. O torcedor na Inglaterra e na Alemanha acha que não pode ficar fora da festa. A gente aqui não fala na festa, só que tem festa toda quarta e todo domingo, toda quarta e domingo tem futebol.

Uma das soluções seria vender as temporadas?

Não, seria trabalhar. Cada time encontrar sua solução. O que não pode é o cara ter um estádio de 40 mil e ter 15 mil.

O horário também não pesa? Jogo no meio de semana às 22h não é complicado?

Pode pesar. Mas tem que ver que em São Paulo, por exemplo, 20h30 tem gente que não chega. Futebol no Brasil tem que ser às 21h no meio de semana. Não é 22h nem 20h30. Isso tem um peso, claro que tem um peso. Mas voltando a ser advogado do diabo, este ano. Este ano, eu estava em Real Madrid e Barcelona, 3º C, sábado 22h e 86 mil pessoas, com TV Fechada e tudo. O jogo do returno, Camp Nou, sábado, 20h, em Barcelona, chovia e o estádio tinha 97 mil pessoas. Então assim, a gente se escora muito em moletas, em desculpas. Não tem desculpa. O time grande que passa 20 anos sem ganhar título, não tem desculpa. Não adianta reclamar da arbitragem. São 20 anos. Você passa 30 anos, na qual a maior média de público foi 22 mil pessoas, em 83, em 87 foram 20 mil pessoas por jogo no Brasileirão, em 2007 foi a melhor média em 22 anos, com 18 mil pessoas por jogo. Nesse tempo, mundo a fora tem 35, 45, 30, 28 mil pessoas de média de público e a gente pensa que está bom. Não pode, a gente está acomodado. A gente não está vendo que o Brasil não é mais o país do futebol.

O senador Paulo Davim, do RN quer rediscutir, em Brasília, a repartição de verba entre os clubes das Séries A e B. O que você acha disso?

Acho que esse não é o lugar. A gente tem problema demais no Brasil para ficar discutindo futebol. Os clubes, as ligas, as federações, a confederação. O mundo do futebol tem que discutir como transformar o futebol numa indústria. Deputado e senador deveria ter mais o que fazer.

Você está otimista quanto à Copa de 2014?

Em relação a organização está muito aquém do que deveria estar. Eu acho que os estádios vão ficar prontos, mas obras de mobilidade não vão estar. A gente vai ter aeroportos mambembes. Mas não os estádios. Estes vão estar prontos. O legado da Copa vai ser mesmo os estádios nos centros onde tem clubes. Ou seja, você vai ter um estádio novo em São Paulo, um estádio novo em Porto Alegre, uma Arena da Baixada nova em Curitiba, um Mineirão novo em Belo Horizonte, isso vai ficar para o futebol brasileiro e o futebol brasileiro vai precisar saber usar isso. Agora a gente vai passar um pouco de vergonha, não sei bem se a palavra é essa porque, por exemplo o cara vai chegar em São Paulo e vai ficar preso no trânsito, vai ver os problemas que Natal tem, o cara que for para o aeroporto Santos Dumont vai correr o risco de não encontrar o voo dele. Essas coisas não vão melhorar daqui até 2014

E a Seleção? Pronta para a Olimpíada?

Pronta não, mas também não vai estar tão solta quanto parece. Se você pegar, Rafael, Danilo, Thiago Silva, David Luiz, Alexsandro, Romulo, Lucas, Ganso, Oscar, Neymar. Todo mundo com experiência de Seleção. Só que esse time não jogou junto. O que é grave. Por isso não está pronto, mas também não está cru, porque a base da seleção principal, hoje, é a seleção olímpica.

A gente tem favoritos no Brasileiro?

Não gosto de dizer que não tem favorito. Dou minha cara à bater. Digo que aqui temos mais times grandes e candidatos ao título que em outros lugares. Como o Brasileiro é um enduro de resistência, são 38 rodadas com barreiras, então pode mudar. O Santos é favorito? É. Mas o Santos é favorito jogando simultaneamente a Libertadores? Sabendo que vai liberar Neymar e Ganso paras Olimpíadas? Então o Brasileirão são 38 rodadas com barreiras. Isso ocasiona equilíbrio e surpresas, isso aliado ao fato de que o Brasil tem 12 grandes clubes que entram na competição para brigar pelo título. Isso é bom. Agora se for valorar quem tem mais time: O Santos em primeiro lugar, Corinthians, Vasco e Fluminense em segundo lugar, acho que o Inter/RS tem condições de entrar nessa briga e São Paulo.

O Flamengo seria uma surpresa?

No atua estágio que começa o campeonato sim.

No encontro entre Santos e Corinthians você apostaria na juventude do Santos ou no futebol pragmático do Corinthians ?

O Corinthians não tem um futebol pragmático. O Corinthians não tem um craque. É diferente. O Corinthians tem um futebol extremamente ofensivo. É um time que joga para o ataque, que se posiciona no ataque, rouba a bola na frente. Se posiciona para roubar a bola o mais perto possível da grande área adversária. Trabalha com posse de bola. Ele não é um time defensivo.

Tem dificuldades em fazer gols.

Isso e tem dificuldade em sofrer. Mas ele não se posiciona no campo de defesa para não sofrer gols. É diferente. O Que o Corinthians não tem é um cara como Neymar ou como o Ganso. É essa a diferença. Em teoria, pelo retrospecto recente, o Santos teria a vantagem. Só que o Santos vai chegar com o Neymar voltando da Seleção e possivelmente sem o Ganso, que vai passar por cirurgia. Então isso equilibra muito o confronto. Em condições normais, o Santos com Neymar inteiro, bem e o Ganso bem, eu votaria no Santos. Mas a gente tem duas semanas até o primeiro jogo que tem essa cirurgia do Ganso que, só para o Corinthians, foi ótimo.

Você considera o Boca o adversário mais perigoso para os brasileiros?

O Boca não é o de 2007. É um time que vai chegar com muito força. É um time que sabe o que quer. É um time competente. É um adversário importante, mas a Universidade do Chile pode ganhar a Libertadores. Acho os dois adversários muito difíceis. A Universidade do Chile hoje é o time mais europeu da América do Sul.

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