Páginas

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Não dá pra separar


Zico diz que não acompanha mais o Flamengo, sequer pisa lá dentro. Entendo que tenha uma dose de cabeça quente e que, amanhã, com uma direção que ele tenha um melhor relacionamento, ele volte a ser o Galinho da Gávea e tudo fique bem. Mas hoje, o mais identificado jogador de história do futebol brasileiro e talvez mundial não quer mais relação com o seu clube.
Trairagem? Zico é maluco? Confundir pessoas com clube? Não tem como. É natural.
Você, torcedor doente do Vasco, pode odiar o Flamengo a sua vida toda. Se um dia sua mãe precisar de ajuda, o Vasco te bater a porta na cara e o Flamengo te ajudar, você vai mudar de time.  Vale pro contrário também.
Os clubes são marcas gigantes, porém, comandadas por pessoas. Pessoas boas e pessoas ruins, mas que representam algo maior.
Se na porta do Palmeiras você for agredido por um dirigente do clube, seu amor diminuirá muito, talvez até acabar.
Não há amor incondicional. Você pode amar por nada em troca, mas não pode amar e ser agredido, por exemplo.
Se Zico fez o que fez pelo Flamengo e vice-versa, não é possível que um dirigente de torcida organizada se meta no clube e faça acusações em cima dele.
Foi “o Flamengo”? Não, foi um mané só. Mas… e na cabeça do Zico, como fica?
Torço pro time do Mané vencer e ele colher os frutos? Claro que não!
É involuntário, é puro.
Quantos e quantos jogadores já me disseram ter abandonado por completo sua paixão de infância pelo clube que o lançou. Dezenas, quase uma centena deles.
E é óbvio! Você amava o Grêmio, mas quem te deu a chance foi o Inter, logo… as coisas mudam. E não é proposital, pensado ou planejado.
É a reação natural do ser humano. Como a de trocar de mulher.  Você não escolhe, acontece.
Zico viu o que não queria ver. E ao ver, sabe que o sucesso do Flamengo é diretamente atrelado ao sucesso de pessoas que o prejudicaram.
Você acha que algum ser humano pode ser iluminado ao ponto de torcer por seus inimigos?
Não existe isso.
O futebol é lindo a distância. Quando você se aproxima demais de um clube só há uma reação: A decepção.
Eu por exemplo frequentei muito os bastidores do SPFC em virtude de um site que tinha que cobria só o São Paulo. Conheci pessoas do bem, outras muito ruins.
Sei que, quando o time ganha, muita gente ruim ganha também.  E isso vale pra todo e qualquer clube do mundo.
Você não deixa de ser parte daquilo tudo, mas inevitavelmente se distancia e transforma sua paixão em algo calculado e absolutamente frio.
A paixão ganha razão. E não há paixão com razão.
Zico sente na pele o que muitos sentem quando descobrem que seu castelo de conto de fadas não existe.
O Flamengo da nação, aquele que citamos como gigante do futebol se confunde com as pessoas que cuidam dele. Não todas, mas muitas delas.
E isso vale a qualquer clube.
Não condenem o Zico pela sua reação. Acreditem: É impossível separar os dirigentes do clube que eles representam.
Quer continuar um apaixonado pelo seu clube? Fique muito longe dele.
Uma coisa é desconfiar que sua mulher te trai. Outra coisa é pegar ela na cama com outro.  A certeza doi mais do que a desconfiança em qualquer situação.
Ao se aproximar do seu clube, tenha certeza, o que você verá não te fará feliz.
abs,

Nenhum comentário:

Postar um comentário